....vidas negras importam!
Por: Luana Lima¹
Há 15 dias, além dos problemas enfrentados, diariamente, pela população negra do Brasil sobre a pandemia (covid-19), pela qual a atenção das autoridades, deveria manter as pessoas seguras e em isolamento social. Recebemos notícias que despertaram preocupações e críticas: mortes injustificáveis, aliás, de vidas negras em suas residências ou comunidades. No Brasil, duas mortes, entre inúmeras ocorridas em 2020, se destacam: João Pedro Mattos, 14 anos, brincando no quintal de sua casa, na comunidade do Salgueiro (RJ), por conta de uma operação da Policia Federal, teve a casa invadida e alvejada por 70 tiros, sendo que um o acertou pelas costas. Dois dias depois, João Vitor, 18 anos, durante entrega de cestas básicas na Cidade de Deus (RJ), foi baleado por policiais militares em operação. Cinco dias após, em Mineápolis (Minnesota/EUA), George Floyd é asfixiado por um policial. Consequentemente, iniciam-se manifestações simultâneas nos EUA e Brasil, afirmando que “vidas negras importam”, mas só valem ser lembradas em situações associadas a violência?
Os negros existem para além de os “trezes” de maio ou os “vintes” de novembro, têm importância 365 dias do ano, em todo o mundo e, para isso, se faz necessário a real conscientização, que só se dará por uma compreensão histórica. Nas práticas sociais cotidianas, vemos atos de discriminação racial como perseguição em loja, preconceito de classe, alegada incapacidade, estereótipo de atividades, piadas a respeito do cabelo e acessórios, além de invalidar o que se fala do racismo. O racismo tem sua construção sócio-histórico em nosso meio, contudo, não pode e tão pouco deve ser a única forma de identificar a população negra. Muitos tiveram suas trajetórias interrompidas, vemos o passado se repetindo no presente. Os negros construíram sua história, após, luta e conquista por liberdade – para além de “isabeis” ²– se construindo. Desta forma, nada melhor para iniciar uma conscientização do que é ser antirracista, do que entender que o negro não surgiu para ser sinônimo de racismo e sim, para ser, onde estiver, pertencente ao seu país, em nosso caso, ser brasileiro.
A seguir alguns livros para abranger o conhecimento sobre o tema:
O autor nos prestigia com um levantamento do que o negro sabe, do que se sabe sobre o negro e, na junção dessas duas vias, a visão sobre si mesmo que o negro vem construindo no Brasil.
Um livro que, já no título, expressa sua magnitude! “Não digam que fui rebotalho, que vivi à margem da vida. Digam que eu procurava trabalho, mas fui sempre preterida. Digam o povo brasileiro que meu sonho era ser escritora, mas eu não tinha dinheiro para pagar uma editora.”
Pensar em referências intelectuais brasileiras, sem ter Milton Santos presente, seria para mim, impensável! Neste livro, o autor se propõe abordar questões da cidadania pelo ângulo geográfico, com a pretensão de contribuir para o debate da redemocratização brasileira.
O olhar de Lélia para as festa populares brasileiras; traduz a diversidade das manifestações festivas. E para além disso, a autora, reforça o laço entre Brasil e África e a reinvenção das tradições e o sincretismo religioso presentes na formação cultural brasileira. Diante dessa concretude do festejar brasileiro, a obra possui um prêmio internacional na categoria “os mais belos livros do mundo”, na Feira de Leipzig/Alemanha Oriental – uma das mais importantes do mercado editorial.
Afinal, quem são os malês? O livro nos ensina sobre a história da revolta dos negros muçulmanos, na Bahia do século XIX, que pretendiam abolir a escravidão africana. Com analise do contexto histórico, o livro expões as estruturas sociais e econômicas, a série de revoltas escravas acontecidas desde o início do século XIX e a natureza específica da escravidão urbana.
Viva o povo brasileiro! Mas o que nos compõe como brasileiros? Em um mix de ficção e realidade o autor nos faz refletir sobre a formação da identidade nacional, indo do século XIX até XX, uma viagem histórica feita por “Alminha”.
Um livro atual, de 1883, que nos contextualiza sobre as problemáticas e consequências histórica da escravização para o Brasil da sua época e para o futuro.
Considerado um marco na sociologia brasileira, onde Florestan Fernandes aborda diretamente o movimento ou movimentos negros, ou melhor, a emergência e as perspectivas de tais movimentos na sociedade e na política brasileiras.
“A educação como prática da liberdade é um jeito de ensinar que qualquer um pode aprender”. Influenciada e, também, critica a Paulo Freire, Bell Hooks nos traz um novo tipo de educação, que transgrida as fronteiras raciais, sexuais e de classe a fim de alcançar o dom da liberdade é o objetivo mais importante do professor.
Diplomata, poeta, historiador, memorialista, pesquisador... Alberto da Costa e Silva, em sua multiplicidade, disse em uma entrevista "é preciso entender os africanos para melhor entender o Brasil", e assim o fez. Nesta obra, aborda as relações históricas entre o Brasil e a África e sobre a África que moldou o Brasil e o Brasil que ficou na África.
¹ Luana Lima é psicopedagoga, graduada pela UNIFIEO e pós-graduada pelo Mackenzie. Deu aula na Fundação Casa e em cursinhos populares. Graduanda em Ciências – Licenciatura e aluna especial do PECMA-UNIFESP.
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