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Acesso à cultura no Brasil

Atualizado: 24 de jun. de 2020

A exposição nua e crua do retrato da desigualdade

Por: Giovanna Dos Santos¹

São Paulo, 24 de maio de 2020

 

Quando falamos em cultura, podemos estar nos referindo a diversos aspectos, uma vez que o significado de cultura não é capaz de ser associado de modo único. É amplo e complexo, e abrange tanto hábitos, crenças e conhecimentos de uma determinada sociedade, quanto as suas formas de manifestação artística e técnica. Abordando o termo cultura com referência as manifestações artísticas e técnicas, é afirmado na Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH), instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, que:

“todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios”.

Observando o acesso à cultura no Brasil, notamos que este se encontra intimamente ligado as questões sociais, econômicas, demográficas, raciais e políticas, o que o torna desigual e vai contra o previsto na DUDH. Na quarta edição do Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, é possível observar numa rápida leitura dos dados que a diferença de acesso da população preta e parda a equipamentos culturais está diretamente relacionada com as regiões do país. No Sul e Sudeste, onde a maioria da população é branca, há maior concentração de bens culturais. Já no Norte e Nordeste, onde a maioria da população é preta e parda, o número de equipamentos culturais é reduzido. Deste modo, se percebe a forte conexão entre a desigualdade regional e a desigualdade racial, que é construída há muitos anos na história de povoamento do país e se perpetua até hoje. Regiões como a Sudeste, que foram adotadas como centro de produção no passado, carregam os reflexos até hoje, tanto em sua importância econômica para o país, como na prevalência racial que carrega.


Além desses aspectos, uma questão de grande relevância para a desigualdade do acesso, é a questão econômica. Na maioria das vezes, a possibilidade de usufruir de produções culturais está associada a condição de pagar por aquilo, como, por exemplo, cinemas, teatros e museus. De acordo com o IBGE, 12.9 milhões de novos desempregados foram registrados no primeiro trimestre de 2020, para todos estes brasileiros, como para aqueles que sobrevivem com o atual salário mínimo, a escolha por produções culturais não é vista como prioridade, e tão pouco resta dinheiro ou existe facilidade de acesso para isto, levando em consideração a disponibilidade de espaços culturais nas diversas regiões do país, uma vez que há maior concentração em determinados municípios, principalmente capitais.


O atual cenário de distanciamento social no país, devido à pandemia do novo Coronavírus, tornou as desigualdades sociais um problema escancarado. Outro exemplo é associado ao acesso à internet – que por sua vez, conecta-se às questões sociais, econômicas, regionais e raciais – como um dos principais meios de entretenimento. Afinal, será que a população preta e parda tem acesso as mídias digitais e chuvas de “lives” como forma de entretenimento?


Todavia, observa-se também que, diante da pandemia, equipamentos culturais inacessíveis para uma parcela significativa dos brasileiros, seja pela distância ou custo, tornaram-se mais acessíveis por meio da internet através da visitação online de diversos museus, parques e galerias do mundo, entre eles a Pinacoteca de São Paulo, que oferece uma visão de 360º de suas principais salas.


Existem diversos aspectos que potencializam a dificuldade do acesso à cultura no Brasil, e a viabilização deste acesso deve ser constante e partir, inclusive, da própria sociedade, como por parte de projetos gerados nas Universidades Públicas, possibilitando o acesso da comunidade a diversos assuntos e produções. Instituições e empresas privadas também devem participar desta viabilização. Iniciativas de projetos culturais gratuitos são de extrema importância, principalmente nas regiões que não possuem espaços culturais. Entretanto, a democratização deste acesso deve ser executada, principalmente, por parte das autoridades municipais, estaduais e federais, que possuem a obrigação de fornecer o acesso à cultura para todos.


Aproveito e deixo como sugestão cinco museus que pode visitar gratuitamente, por meio da internet. Enquanto visita, vale refletir sobre a problemática do acesso a cultura, apresentada neste texto.


Cinco equipamentos culturais para se visitar durante a pandemia:

> Pinacoteca, São Paulo

> Casa de Anne Frank, Amsterdam

> MASP, São Paulo



¹ Graduanda de Ciências Ambientais – UNIFESP. Colaboradora no grupo de trabalho de Comunicação e Divulgação Científica no Observatório de Educação e Sustentabilidade – UNIFESP.


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