Além de tecnologia e acesso, planejamento, formação e hábitos também são essenciais
Por: Giovanna dos Santos
A educação sempre foi, e ainda é, uma área amplamente explorada, sendo campo de estudo e trabalho de pesquisadores, professores, escritores e educadores. Comumente, passível às diversas interpretações, de acordo com diferentes aspectos. Em recente leitura do livro “Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos”, escrito por Paulo Freire, me deparei com a concepção de que:
“A educação é sempre uma certa teoria do conhecimento posta em prática”
O que possibilita, em meu entendimento, a vasta ideia acerca do que seria a educação e suas infinitas possibilidades. Por meio desta citação pode-se visualizar a conexão entre os termos educação e conhecimento, que por sua vez se conecta ao ensino. Se procurarmos no dicionário o significado da palavra ensino, encontraremos definições que se aproximam de: transferência de conhecimento, de informação, instrução. Mas como estão acontecendo tais processos em meio ao cenário atual? Quais são os sistemas e metodologias adequados para o ensino neste contexto?
Não é novidade para nós que desde que a Covid-19 chegou ao Brasil, o estilo de vida foi alterado. Isto também se refletiu na educação. Em meados do mês de março, quando se iniciou o isolamento social, as instituições de ensino e secretarias de educação, estaduais e municipais, tomaram medidas para lidar com a situação. No início, suspensão de aulas por uma, duas semanas foi a decisão mais comum adotada, tendo em vista o parâmetro de normalização dos casos na época. Entretanto, os casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus foram aumentando gradativamente e, com isso, novas medidas tiveram que ser pensadas.
Enfrentar o isolamento social e prosseguir com o ensino implica na implementação de novas medidas para reduzir os prejuízos do isolamento na educação, entre tais medidas, a mais adotada por grande parte das instituições tem sido o ensino a distância (EaD). Esta modalidade de ensino baseia-se em um conjunto de processos que são desenvolvidos a partir do distanciamento físico entre professor e estudante, de forma que estes não estejam no mesmo espaço, na mesma “sala de aula”. Existem diversas instituições que oferecem cursos, formações e disciplinas a distância, como a própria UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo). Todavia, tais cursos e disciplinas foram desenvolvidos e planejados com base em literatura pertinente à sua área específica e na própria base do EaD. E é este o ponto que distingue a maneira de como o EaD está sendo adotado por instituições nesta ocasião de quarentena. Cursos, profissionais e alunos que antes não estavam habituados a esta modalidade, foram expostos a ela e, na maioria dos casos, de maneira rápida e ausente de planejamento. Notadamente, este tipo de ensino requer recursos, como acesso à internet, dispositivos tecnológicos eficazes e uma boa plataforma on-line, mas, principalmente um planejamento e implementação eficientes, bem como adaptação e um ambiente adequado para o estudo em casa, tanto de professores, quanto de estudantes. Isto para que aconteça de maneira positiva e integrada.
Durante o período de isolamento observa-se que as metodologias mais adotadas para esta modalidade de ensino são relacionadas as tecnologias de informação e comunicação. Entre os recursos tecnológicos, se destaca a necessidade de um computador, notebook ou tablet para o melhor aproveitamento e facilidade ao acesso das plataformas EaD, bem como para realizar pesquisas e atividades, tendo em vista a maior quantidade de recursos destes dispositivos. Também se faz necessário acesso a internet de qualidade para acompanhar aulas online e outros tipos de conteúdo, contudo, de acordo com o IBGE, embora a internet seja utilizada em 74,9% dos domicílios brasileiros, em 98,7% destes domicílios, o celular é o principal meio utilizado para este fim, seguido pelo microcomputador, com 52,3%. Quando instituições optam por adotar o EaD sem planejamento prévio, tanto de professores como de estudantes, a maneira como é implementado acaba por desconsiderar as diferentes realidades sociais que abrangem além do acesso à tecnologia, um ambiente domiciliar apropriado ao estudo, uma formação, cultura e hábitos dos estudantes e profissionais, para que os estudos ocorram da melhor maneira.
Diversas dificuldades são encontradas quando esta modalidade de ensino não é implementada com o planejamento necessário. A participação de estudantes e professores no processo de tomada de decisão é o caminho mais efetivo e garantidor de que ocorrerá da melhor forma. Considero que o aproveitamento do conteúdo não é explorado em seu máximo pela maneira como é passado, o acesso a uma educação de qualidade e acessível é um direito do estudante, e este deve indagar e refletir sobre as metodologias que estão sendo utilizadas, já que a relação aluno-instituição torna-se ainda mais necessária neste momento. Entretanto, o cancelamento ou paralisação total das atividades de ensino não é uma boa medida, não é justo que os estudantes fiquem sem estudar, assim como não é justo oferecer um sistema de ensino que pode ser falho e seletivo, portanto, a chave está no planejamento. As instituições devem apresentar o maior nível de apoio possível aos estudantes e procurar investigar se existem diferentes perfis e condições sociais entre eles, buscando alternativas àqueles que não estão aptos ao estilo adotado. Precisamos refletir e pensar na forma em que os processos educativos acontecem. A situação atual em meio ao isolamento social é extremamente delicada e não se deve ditar a medida certa ou a errada, qual seria mais ou menos adequada, mas sim buscar abranger todas as pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem com os recursos disponíveis para estas, e, acima de tudo, continuar garantindo o acesso e qualidade da educação.
¹ Graduanda de Ciências Ambientais – UNIFESP. Colaboradora no GT de Comunicação e Divulgação Científica do Observatório de Educação e Sustentabilidade – UNIFESP.
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