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Foto do escritorObES - UNIFESP

A essencialidade na pandemia

Uma reflexão acerca de nossas necessidades e hábitos de consumo Por: Sarah Arruda¹

 

Desde sua chegada ao Brasil, a Covid-19 (doença causada pelo Coronavírus) provocou diversas mudanças sociais, ambientais e econômicas. Algumas delas mais marcantes em nosso dia a dia, quem de nós foi ao mercado e não se deparou com o sumiço repentino do álcool em gel? Ou ainda, com o aumento instantâneo nos preços de produtos básicos, como arroz, feijão, leite e até mesmo dos produtos de higiene pessoal. Todos essenciais neste momento, mas que estão em preços exorbitantes.

Nos jornais, na televisão e das poucas vezes que vamos ao mercado, o que vemos são pessoas aos montes comprando quantidades exageradas de alimentos, produtos de limpeza e estocando produtos perigosos como o gás de cozinha (extremamente perigoso devido ao risco de explosão). Me perguntei diante dessas situações se “é possível ser sustentável durante uma pandemia?”. Esclareço que se trata de uma pergunta retórica, a intenção é que a reflexão fique a seu cargo, leitor, mas, claro, apresentarei brevemente alguns pontos para se considerar.


Embora a cena mais comum seja de consumo intenso e impensado, mesmo com inúmeros avisos de que não haverá desabastecimento, também existem outros lados da história. Aqui abordo, especificamente, a cena que não é tão comum nos noticiários, aquela que acontece em nossas casas, onde ao irmos ao mercado vamos justamente com a ideia de comprar o essencial. Mas afinal, o que é o essencial? Neste momento, o que é essencial para você? Acredito que nesse momento seja consenso de que os alimentos são essenciais para todos. Assim como, medicamentos, itens de higiene, o gás de cozinha, e tudo aquilo que é indispensável para nossa sobrevivência. Nesse sentido, quando pensamos sobre o que é essencial, podemos nos deparar com esses itens vindos em nossa mente, lembrando que cada pessoa possui a sua própria concepção do que é essencial. Aí você pode me perguntar - e onde a sustentabilidade entra?


Quando consideramos o conceito de essencial ou indispensável e fazemos uma lista mental do que realmente precisamos, itens que não se encaixam nos mencionados anteriormente acabam tendo menor relevância em nossa lista de prioridades, e, provavelmente, não serão adquiridos numa rápida e cara ida ao mercado. E é neste ponto, que eu quero te conduzir à reflexão. Quando decidimos pelo que é nossa real prioridade, é justamente nesse momento, que começamos a mudar o nosso padrão de consumo, onde podemos ver claramente o motivo por trás de nossas escolhas, é quando optamos por um consumo consciente. Se antes, facilmente, éramos convencidos a comprar por comprar (e eu me incluo nessa), agora estamos nos tornando mais críticos ao que consumimos – ou pelo menos, deveríamos.

“A sustentabilidade, visa uma relação mais equilibrada entre o modo vida humana e o ambiente. E dessa forma, mudar os nossos hábitos para um consumo sustentável, é fundamental para chegar ao equilíbrio”.

Nesses tempos, um celular, uma câmera, uma roupa da moda, acessórios, produtos eletroeletrônicos, automóveis, e tantos outros, acabam ficando de lado. São em momentos como esse em que somos estimulados a pensar, “o quanto eu preciso de uma peça de roupa nova ou de um celular com 3 ou 4 câmeras”? A minha intenção, não é convidá-los a parar de consumir, tampouco o oposto... A perspectiva aqui é de estimular o pensamento sobre o que consumir, em que quantidade e em qual frequência. Refletir sobre o que, de fato, é essencial para nós. Isto, é claro, quando temos essa possibilidade, pois não podemos esquecer que em um país desigual como o nosso, nem todos tem o poder de escolha. E falando sobre o poder de escolha, devido ao pânico causado pelo Coronavírus, muitas pessoas têm estocado alimentos. Dessa maneira, pessoas com menor poder aquisitivo, estão enfrentando a alta nos preços, tendo que, muitas vezes, escolher o que vai fazer menos falta. Escolher o que é “mais essencial”. Logo, o nosso consumo excessivo e desesperado, além de trazer impacto ao ambiente em que vivemos, ainda tem impactado a vida de muitas famílias, que com dificuldades financeiras, estão tendo dificuldade em se alimentar.


Então, você leitor, leitora, se pergunta “Poxa vida, mas não era você que agora mesmo estava dizendo em como começamos a refletir sobre os hábitos de consumo?” Sim, mas como bem sabemos, as mudanças levam tempo (estamos desde a ECO 92, tentando transformar a sociedade em uma sociedade sustentável), o objetivo desse texto é justamente fomentar as reflexões sobre o tema, se por um lado temos mudanças positivas acontecendo, por outro ainda existe muito trabalho a ser feito.


Contudo, como já mencionado sobre a dificuldade de algumas famílias adquirirem alimentos, há uma boa notícia. Algumas pessoas ao se deparem com essa realidade, estão se unindo em uma corrente de solidariedade que se estende por todo o Brasil para auxiliar quem precisa. Em perfis no Instagram, como o @razoesparaacreditar, podemos ver ações de arrecadação de alimentos e produtos de higiene para pessoas em vulnerabilidade social, doações de EPIs para profissionais de saúde e arrecadação de ração para abrigos de animais. Esse é um daqueles perfis que deixam meu coração “quentinho” e esperançosa de que dias melhores virão, pois, apesar de todas as dificuldades enfrentadas nessa pandemia, ainda existem pessoas preocupadas com o próximo e dispostas a ajudá-los. Aqui aproveito e deixo mais informações sobre como apoiar quem precisa.


¹ Bióloga. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Análise Ambiental Integrada - UNIFESP. Bolsista de apoio técnico no Observatório de Educação e Sustentabilidade – UNIFESP.


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