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Caminhos com a leitura e a escrita

Atualizado: 12 de ago. de 2020

Não podia ter sido melhor

Por: Inês Pauli¹

Santo André, 29 de julho de 2020

 

Meu pai sempre foi quem mais me inspirou, apesar de eu considerar pouco o contato que tivemos na minha infância. Sua história de vida sempre me deu muito orgulho. Nasceu em 1922 em São Paulo das Missões- RS. Aos treze anos só falava alemão, assim como seus pais, e tornou-se seminarista beneditino, aprendendo francês e latim. A Língua Portuguesa ele praticamente aprendeu sozinho lendo obras literárias, tais como todas de Machado de Assis. Depois, autodidata, aprendeu inglês.


No seminário, formou-se em Geografia e História e começou a lecionar no próprio mosteiro. Quando completou trinta anos, após aprovação do Vaticano, saiu e mudou-se para Santo André/SP. Começou a lecionar no colégio Santo André onde conheceu minha mãe, normalista do então melhor estadual da região EEPSG Dr. Américo Brasiliense, com seus dezoito anos. Como disse minha avó para ela: “filha, pense bem, o moço não tem muito dinheiro, mas tem o mais importante, o diploma”, casaram-se.


Meu pai lecionava Língua Inglesa no colégio São Bento, em São Paulo. Eu tinha muito ciúmes dos meus irmãos mais velhos, éramos seis no total, sendo eu a sexta, três meninos e três meninas, porém, só os meninos podiam estudar no colégio, até então somente frequentado por alunos (o colégio não era misto). Então só eles tiveram o privilégio de diariamente pegarem o trem de Santo André até a estação da Luz e caminhar até o Pátio do Colégio, ao lado do meu pai. Sempre fiquei imaginando quantas conversas eles tiveram.


Meu pai lia o jornal diariamente, sentado em sua poltrona no centro da sala. Lembro-me que ele me entregava o “caderno infantil”, aos domingos, mesmo antes de eu aprender a ler. Ele lia algumas notícias para mim, confesso que não entendia muito. Meu contato com as letras no âmbito escolar não foi muito bacana. Como os meninos estudavam no colégio dos padres, as meninas, claro estudavam no colégio das freiras e confesso que nunca me “dei muito bem com elas, as freiras”. Entrei no antigo “pré-primário” com cinco anos, iria completar seis em maio, que sofrimento. Lembro que queria muito correr, correr, brincar com elástico, e a freira sempre me mandava copiar a caminho suave, com letra de imprensa. Copiei a cartilha inteira, tenho problemas com trocas na escrita (b/p –d/t- v/f) até hoje, trágico.


No colégio havia uma biblioteca enorme, mas para os pequenos irem lá, só escondidos.


Para a minha sorte, em casa sempre tivemos muitos livros, poucos infantis, mas sempre que possível ganhava um. Meu pai fez questão de fazer seis escrivaninhas, uma para cada filho e filha. Podíamos organizar nossos livros e nosso material escolar. Passei muitos anos na minha escrivaninha, não podia ter sido melhor.

¹ Pedagoga. Mestra em Ensino de Ciências pela UNIFESP, Diadema. Orientadora Pedagógica – São Bernardo do Campo.


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