A conscientização e o significado em nossas ações
Por: Sabrina Sobral M Leite¹
São Paulo, 30 de setembro de 2020
Estava eu outro dia em uma turma do 6° ano iniciando uma conversa sobre algumas questões ambientais, e dentre os assuntos falávamos sobre reciclagem. Perguntei aos estudantes quais deles separavam em suas casas o lixo para a coleta seletiva. De uma sala de trinta, apenas três levantaram a mão. Com isso, começamos a aprofundar a reflexão quando fui interrompida por um deles que, ao pedir a fala, disse: “professora, meu tio separa latinhas para a reciclagem. Ele leva as latinhas para vender, mas antes, enche elas com areia para ganhar mais dinheiro”. Pronto, lá se foi meu planejamento. Passamos, então, a falar sobre ética, e o quanto é importante cuidar de pequenos gestos e atitudes se quisermos tornar o mundo um lugar melhor.
Após a aula, comecei a refletir sobre nosso papel enquanto educadores. E junto dele, quantos pormenores estão entrelaçados nas mais simples discussões. E o quanto elas são importantes e essenciais. Muito provavelmente, o menino nunca havia visto o ato de seu tio como algo errado. Talvez nem o tio o tenha visto assim. E é bem possível que nunca tivessem refletido sobre como o ato de reciclar as latinhas poderia contribuir com a redução de lixo ou extração de matéria prima. E diante de tanta complexidade que pode envolver um assunto tão simples, pude constatar o papel fundamental da educação em possibilitar que um sujeito se sinta parte da sociedade e do mundo ao seu redor.
Montei então um projeto para falarmos sobre sustentabilidade. A ideia era que os estudante compreendessem a importância do meio ambiente para os seres vivos, incluindo nós seres humanos, e que é possível obter da natureza os recursos que necessitamos de maneira sustentável e consciente. E como nós, cidadãos, podemos adotar práticas que contribuem para um ambiente mais saudável e humano. Sim, humano no sentido de humanidade. Esses pequenos estudantes, com seus onze anos de idade, mobilizaram-se em ações de conscientização com suas famílias e com outros estudantes na escola. Para isso, escolheram usar intervenções que as crianças do ensino fundamental I pudessem entender e se interessar por esses assuntos. Desenvolveram teatros e brincadeiras educativas durante alguns horários na escola. Ao longo do ano, as ações que eram difíceis no início, foram se consolidando e se diversificando pelas pequenas mãos desses cidadãos mirins. E eles queriam mais, podiam mais e fizeram mais. Ao final do ano letivo, o hábito de separação do lixo e coleta de óleo usado de cozinha estava ocorrendo na maioria das casas da comunidade. Mas não era só isso. Existia uma consciência de que cada um importa. Cada indivíduo dentro da família e da sociedade. E que quando nossas ações podem ajudar alguém, mesmo que este alguém não seja nosso conhecido, como aquele catador de material reciclável que passa em nossa rua toda semana, todos ganhamos, pois somos indivíduos sociais e vivemos coletivamente.
Dessa forma, não adianta apenas falar sobre biodiversidade, sustentabilidade, coleta seletiva ou destino do lixo. Se não houver a compreensão da consequência de nossas ações no mundo, todos os conceitos e problemáticas não serão outra coisa senão palavras e definições. É necessário e urgente que os estudantes se vejam como parte ativa da sociedade. E que a educação sirva como elo para a valorização e compreensão da ciência. E que formemos indivíduos críticos e conscientes, pois só assim poderemos contribuir e deixar um mundo um pouco melhor daquele que herdamos.
¹ Bióloga, pós-graduada em Gestão Ambiental pela Unesp, Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática pela Unifesp e professora de Ciências e Biologia da rede particular e municipal de São Paulo, crê na educação como chave para prover mudanças significativas na sociedade. .
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