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O seu Ser é consciente?

Viver em sociedade exige, sobretudo, consciência do que somos, da realidade em que vivemos e de tudo que fazemos.

Por: Sarah Arruda¹

Caieiras, 26 de julho de 2020

 

A palavra consciente vem do latim, significa “o que tem pleno conhecimento”. Quando imaginamos a nossa vida cotidiana, o quão consciente somos a cerca daquilo que compramos? O Ser consciente é aquele que entende e sabe, por exemplo, “o que, quando e por que precisa de algo”. Em quantos momentos em nosso cotidiano somos surpreendidos por vontades impensadas de comprar determinado produto, para, logo em seguida, se perguntar, mas por que eu comprei isto?


O mundo atual nos oferece uma série de produtos e serviços, no entanto, além da frustração ao comprar um produto que realmente não queríamos, o ambiente em que vivemos é diretamente impactado pelas nossas “escolhas” de consumo. Por trás de cada produto existe uma história, uma longa história, que na maioria das vezes, não conhecemos. A partir da sua, da minha compra, passamos a fazer parte desta história. Então, como, de fato, Ser consciente? Como nós, educadores ambientais, podemos trabalhar com essa perspectiva?


Nesta coluna busco apresentar, ainda que brevemente, o projeto “Consumo Consciente”, desenvolvido por meio do Programa de Extensão Universitária “Escolas Sustentáveis” (PES), da Universidade Federal de São Paulo. Em seu desenvolvimento, tivemos como objetivo resgatar as relações entre o ser humano e o ambiente, a partir do cotidiano dos educandos na escola e sua relação com os resíduos sólidos que geram. Foram utilizadas duas estratégias para se trabalhar o tema, a primeira foi de reflexão sobre a geração e destinação dos resíduos sólidos em uma escola pública de Diadema. A segunda foi o uso de flyers com dados sobre consumo, reflexões e frases de impacto. A ideia foi promover a sensibilização socioambiental por meio da página do Facebook Programa Escolas Sustentáveis e Instagram @pex.escolassustentaveis, entre os seguidores das redes e os estudantes da escola onde o projeto foi realizado.


Na prática desenvolvida na escola, os educandos tiveram a oportunidade de fazer parte da história dos seus resíduos. Ué, mas como assim? Pergunta você, leitor, leitora. Calma que vou explicar. Para muitos deles, a relação com o “lixo” era “eu compro, eu uso, eu descarto”, porém, como é esse descarte? Como deve ser feito? Para onde ele vai? Essas questões não eram pensadas ativamente por parte dos estudantes, assim como ocorre com a maioria da sociedade. Em nossa experiência no projeto buscamos resgatar essas questões de maneira prática, inserindo-as no cotidiano dos estudantes. Inicialmente, em conjunto com outras participantes do projeto, ministramos aulas com as temáticas consumo e resíduos, para isto buscamos fazer conexão com os temas do currículo do primeiro ano do ensino médio, na disciplina de Biologia. Em sequência, foram realizadas ações de intervenção na escola, a primeira delas foi a inserção de coletores para cada tipo de resíduo, os coletores eram voltados a: plástico, metal, papel, vidro e orgânicos.


A princípio a ideia era avaliar se os demais estudantes da escola, que não estavam participando do projeto, iriam descartar os resíduos de forma correta apenas com a inserção dos coletores para tal. Percebemos que isto não aconteceu. Notando que somente a inserção dos coletores não bastava para a separação dos resíduos, foi dado início a outra atividade, esta voltada à informação e sensibilização dos participantes sobre o descarte de resíduos.


Nesta segunda parte os educandos, literalmente, colocaram a mão na massa. De posse de alguns equipamentos de proteção, como óculos, luvas e aventais, os estudantes realizaram a gravimetria dos resíduos gerados na escola, ou seja, todo resíduo gerado na escola, no período de uma manhã, foi recolhido e disposto sobre uma bancada no laboratório de Ciências, em sequência os estudantes começaram a separar os resíduos de acordo com sua tipologia, sendo os principais resíduos encontrados: plástico, metal, papel, vidro e orgânicos.


Durante a atividade, os participantes indagaram acerca da grande quantidade de resíduos gerados, em sua maioria, embalagens de produtos que eles próprios consumiram, assim como o restante da comunidade escolar. Um dos pontos chave da atividade foi, após o trabalho de separação e pesagem dos materiais, os estudantes perguntarem “qual seria a disposição de todo aquele resíduo”, e a resposta foi – “devemos juntar todo material e colocar no lixo comum, pois nem a cidade, nem a escola possuem coleta seletiva”. Neste e em outros questionamentos, observamos certa indignação nos estudantes, percebemos que ali eles começaram a se enxergar como parte da história dos resíduos que consomem.


Na finalização da prática, a frustração e os questionamentos foram unânimes, a partir da vivência da história do pós-consumo, discutida nos dois momentos da atividade, que vai desde a separação correta dos resíduos até a escolha de qual será a disposição, os estudantes foram sensibilizados com relação a seus hábitos de consumo e da necessidade de melhores alternativas para a gestão de resíduos sólidos. Em autoavaliação e feedback sobre a atividade, os estudantes relataram que começaram a ser mais conscientes sobre o que consomem, a real necessidade desse consumo e o que fazer com o resíduo gerado. Percebendo a necessidade de compartilhar a responsabilidade pelo resíduo que geramos.


Afinal, somos conscientes?


Enquanto educadores ambientais, podemos e devemos utilizar todas as ferramentas disponíveis para alcançar as pessoas. Temos observado que o meio digital tem se mostrado bastante eficiente para transmissão rápida de informações, e reconhecemos que, embora o uso das mídias sociais não substitua as práticas presenciais, a utilização combinada de ambas pode trazer diversos impactos positivos. Assim, enquanto as atividades eram realizadas nos ambientes da escola, outro caminho também era percorrido. Por meio da elaboração de diversos flyers e infográficos, como na figura 1, foram feitas postagens nas redes sociais do PES, as quais os estudantes acompanharam, as postagens eram relacionadas aos temas trabalhados no projeto, a partir das métricas de alcance das próprias redes sociais foi possível observar que as postagens que tiveram maior número de interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos, foram as postagens com temas correlatos ao projeto. Demonstrando que atingiram suas finalidades.


Figura 1 – Flyers compartilhados nas redes sociais.

Fonte: Arquivo do Programa Escolas Sustentáveis.


Ser consciente não é uma tarefa fácil, se faz necessário o uso de diversas estratégias para o autocontrole, o monitoramento de si mesmo, e isto carece de um autoconhecimento sobre nossas vontades, nossos desejos, limitações e também sobre os impactos que causamos. É preciso ter isto em mente ao ser educador, educadora ambiental, que não basta a sensibilização e informação em relação às questões socioambientais, é vital conhecer a realidade do público com o qual trabalhamos e, a partir daí, desenvolver ações significativas e que permitam o seu empoderamento, a construção de suas próprias perspectivas. O uso do cotidiano dos educandos é uma estratégia que permite a maior identificação com o tema, mostrando a necessidade de uma educação inclusiva e focada na realidade do estudante.


Agradecimentos: Às professoras Juliana Lescano e Erika Brunelli e à gestão e coordenação pedagógica da Escola Estadual Sylvia Ramos Esquível, por nos receberem e participarem do projeto.


Bióloga – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Análise Ambiental Integrada - UNIFESP. Bolsista de apoio técnico no Observatório de Educação e Sustentabilidade – UNIFESP.


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